quarta-feira, 15 de setembro de 2010

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quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Ester

Ester era uma típica "nerd". Tinha uma vida regrada e sem muitas novidades. Morava com sua avó Suzana no apartamento 333, terceiro andar. Suzana era uma senhorinha bem disposta, cheia de manias e socialmente engajada. Casou-se três vezes, teve três filhos e criava Ester desde que a menina tinha três anos. Após a morte de Nestor, depois de 33 anos de casamento, Suzana ainda mantinha 3 pratos, 3 talheres e 3 copos na mesa no horário das refeições. Ester estranhava, chegou a pensar que sua vó não estava gozando plenamente de suas faculdades mentais, mas Suzana advertira que era apenas para o caso de uma visita inesperada aparecer.
Ester passava os dias sozinha no apartamento, já que Suzana vivia em atividade com o grupo da terceira idade. Como de costume, Ester ocupou-se dos afazeres domésticos, assistiu um pouco de TV, pegou a correspondência na portaria e ia tomar banho quando o telefone tocou. Distraiu-se por alguns minutos e durante a conversa pediu um instante para pegar a toalha que estava no quarto, Ester não suportava atrasos. Voltou ao telefone, despediu-se gentilmente e foi para o banheiro.
No banho lavou os longos cabelos negros com 3 shampoos diferentes e quando estava totalmente ensaboada lembrou que esquecera a toalha. (Ah se não tivesse atendido o maldito telefonema - pensou). A tolha ficou em cima da mesa do telefone e Ester teria que buscá-la. Não viu problemas, já que estava sozinha mesmo e saiu despida, apenas com suas sandálias amarelas.
O que Ester jamais poderia imaginar é que no meio do caminho encontraria sua vó que acabara de chegar com as amigas para o chá das quintas!
A vergonha teve vergonha de Ester que enrubesceu na mesma hora e desejou ter mais que as duas mãos e dez dedos que tentavam inutilmente cobrir o corpo nu. Ester queria sair dali, queria correr, mas as pernas não obedeciam, imaginou milhões de comentários a seu respeito, o que aquelas senhorinhas iriam pensar dela ali parada de sandálias amarelas? Ester estava nervosa e se desculpava continuamente, atropelando as palavras enquanto Suzana e as amigas a olhavam fixamente.
Após alguns segundos que pareceram uma eternidade, as velhinhas explodiram em gargalhadas quando Dona Aldivina relembrou dos tempos em que não padecia da influência da força gravitacional. Ester nunca mais foi a mesma.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Sobre Crianças

Elas são fofinhas, engraçadinhas e absurdamente verdadeiras. Mestres na arte de irritar os coleguinhas, babás, bichinhos e qualquer coisa que lhes convier sem o menor constrangimento. Ora e porque se incomodariam? São apenas crianças.
Elas são barulhentas, risonhas, birrentas, enfim, são normais dentro do que a natureza as permite. Contudo, algumas vem com "defeito de fábrica". Calma comadre que eu explico! Entenda-se por "defeito" as mães, isso mesmo, as genitoras dessas endiabradas e adoráveis criaturas. As mamães de crianças (principalmente as chatas) tem uma tendência à "cegueira". Seus pimpolhos nunca fizeram, fazem ou farão algo que incomode alguém. Os anjinhos estão apenas "interagindo" onde não foram requisitados e a mãe que vem com "defeito" não esboça qualquer reação diante da perturbação causada, no máximo um "vem cá menino", "vou contar pro seu pai" ou um já batido e ineficiente "eu já mandei você parar".
Enquanto infante, lembro-me muito bem de pentelhar os vizinhos, os amiguinhos e por aí vai, ou melhor, ía. Confesso agora um segredo de criança crescida: não existe nada mais estimulante e incentivador do que uma mãe com "defeito". A minha me dava umas boas chineladas, mas essa já é outra história...

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Guilherme

Segunda feira, 25 de agosto de 2008...

Guilherme levantou-se às 08h30, olhou-se no espelho e foi até a pia lavar o rosto, para melhorar aquela aparência de quem passou a noite em claro. Abriu o box, ligou o chuveiro e enquanto a água caia barulhenta no chão, foi até a cozinha passar um café. Voltou para o banheiro e entrou para o banho, mas a água estava muito fria, Guilherme resmungou, desligou o chuveiro e foi se arrumar para o trabalho. Escovou os dentes, tomou seu café, apertou a gravata e seguiu para a parada. Todos os dias esperava 40 minutos por um ônibus que já vinha lotado do terminal.
Guilherme pegou o ônibus e se espremeu para passar entre os passageiros que se acotovelavam no espaço apertado; chegou atrasado, deu um bom dia injuriado ao porteiro e apressado foi direto para o escritório. Conectado, começou o atendimento...

- Alô bom dia...
- Sim senhor...
- Com certeza senhora...
- Não senhor, não foi possível...

Guilherme trabalhava num banco, odiava seu trabalho, seus colegas, seu chefe e odiava ainda mais o seu "salário de fome" que mal dava para pagar suas contas. Cansado, Guilherme teve uma ideia que embora não fosse brilhante e ainda cheia de riscos, tiraria sua vida do marasmo em que se encontrava.

Segunda feira 25 de agosto 14h17...

Gilherme ligou para "Zezinho doido" malandro muito conhecido na região, pelo seu comportamento pouco ortodoxo. Eram amigos de infância, se conheceram aos 7 anos jogando bola no terreno perto da praça. Zezinho abandonou a escola na 5ª série e enveredou na criminalidade aos 16 anos, começou com pequenos furtos e foi evoluindo na escala do crime com uma certa rapidez. Apesar desses "pequenos" desvios de conduta Zezinho e Guilherme falavam-se com certa frequência e bebiam juntos vez por outra.

- Alô Zezinho? É o Gui...
- Eae doido que cê manda?
- Eu precisava de um favor, na verdade eu tenho uma proposta...
- Manda ae meu camarada!
- Sabe o banco que eu trabalho?
- Guilherme peraí eu acho melhor a gente se falar pessoalmente! 15h no bar do Lorota!
- Fechado! Chego lá em 20 minutos!

Continua...

domingo, 20 de setembro de 2009

Marisa

Marisa tinha 23 anos, era estudante de comunicação social e estagiava cinco horas por dia em um hotel próximo a sua casa.
Do tipo "cult", assistia filmes iranianos que ninguém entendia, ouvia bandas conhecidas por no máximo dez pessoas, além de ter relacionamentos abertos e uma vida social agitada por amigos indies e amigas "moderninhas".
Marisa tinha um amigo chamado Marito, um mexicano de barba por fazer que estudava cinema, escrevia contos eróticos e curtia uma marijuana.
Marito e Marisa tinham muito em comum, além das iniciais dos respectivos nomes. Se conheceram num festival underground de música celta, promovido por uma igreja da qual nenhum dos dois lembrava até hoje. Fumavam todos os dias, tomavam vinho todas as quintas feiras e chegavam bêbados em casa.
A mãe de Marisa não gostava de vê-la na companhia de Marito que considerava um hippie sem futuro e maconheiro.

-Marisa você tá usando alguma coisa?
- Claro que não mãe!
- E o que são esses óculos escuros a essa hora?
- São oculos escuros.
- Não me irrita garota, eu sei que você anda pra cima e pra baixo com aquele hippie!
- E?
- E? Como assim e? E daí que você ouve música de "queimar tudo até a última ponta" onde já se viu isso Marisa?
- Ai mãe relaxa aí o que tem um baseadinho?
- Um baseadinho? Isso é influência daquele moleque!
- Mãe ele não é moleque! Ele estuda e trabalha é responsável!
- Responsável por infestar a casa com aquela fumaça horrorosa! Eu te proibo de manter qualquer tipo de relação com aquele marginal!

E todos os dias quando Marisa apontava no portão de casa a ladainha era a mesma.
Num dia, após mais uma de suas noitadas com Marito, Marisa chega em casa e encontra Joana, sua irmã mais nova, sentada na cadeira da cozinha, falando baixo ao telefone, curiosa, ela se aproxima para tentar entender o que se passava...
Não conseguiu ouvir porque estava muito bêbada e pensou que não deveria ser nada demais, afinal o que sua irmã mais nova estaria fazendo de errado só porque estava no telefone às 4h da manhã?
Preparou-se para dormir e quando já estava quase pegando no sono, ouviu um barulho que vinha da cozinha, vestiu um short e desceu para ver o que acontecia, ao chegar na cozinha a surpresa: sua mãe, Joana e Marito estavam com um narguilé que mal cabia na mesa, tomando cerveja e ouvindo Planet Hemp!

Mãe! (gritou Marisa atônita) O que a senhora... o que vocês estão fazendo? Mãe e aquela conversa toda sobre hippies maconheiros sem futuro? Não era você que não queria o Marito metido aqui em casa...

- Marisa minha filha, legalize!

Sem conseguir raciocinar e digerir o que estava acontecendo, Marisa voltou pro quarto e foi dormir, tomaria satisfações pela manhã.
No dia seguinte ao acordar, Marisa foi no quarto da mãe e aos berros a acordou exigindo uma explicação:
-Mãe o que a senhora pensa que estava fazendo, fumando e bebendo às 04h da manhã?
- Fumou maconha menina?!
Marisa foi trabalhar e no caminho ligou para Marito...
- Cara "cê" não sabe eu tive uma viagem muuuuuito doida...

Neuza

Neuza era uma ajudante do lar. Tinha uma estatura mediana, cabelos negros e desgrenhados, unhas sempre feitas no tom "Odara" e o rádio de pilha amarelo sintonizado na sua rádio preferida, onde ouvia Roberto Carlos, todos os dias.
Carinhosamente chamada de "Neu" pela família de João Pedro e Maria Isabel, casal de nome composto com vinte anos de casamento e três filhos: Juanito o mais velho com 13 anos, Bella a filha do meio com 8 e Pedro o caçula de apenas 2 anos, Neuza começava o dia preparando o café das crianças. Cereal com iogurte era o mais pedido, um tanto melhor, pensava Neu, que não teria trabalho para preparar algo mais demorado.
Terminado o café, Neuza levava os três para a escola e sempre levava uma cantada do "Seu Betinho" como era conhecido "Seu Roberto" o atrevido porteiro do edifício Centro 21.
Na volta o tormento começava. Era hora de preparar a refeição do casal. Maria Isabel gostava de torradas com ovos, mas apenas a clara. O suco de laranja tinha que ser feito na hora, sem açúcar e com cinco gotas de adoçante, sabe-se lá como diabos ela adivinhava, quando por ventura haviam gotas a mais ou a menos. João Pedro gostava de geléia de amora com bolachas, pão de forma sem as bordas, manteiga (nunca margarina) e café preto descafeinado. Neuza nunca entendeu porque o patrão tomava café.
Quando o casal saia para o trabalho, Neu se ocupava do almoço, limpeza da casa e claro das fofocas. Era só dar 9h que Neidinha já gritava da janela em frente: "Neuzaaaaaa! tu não sabe o que aconteceu..." (Neide sempre sabia de tudo e qualquer coisa; capitaneava a D.I.V.A. - Divisão Investigativa da Vida Alheia - da qual Neuza fazia parte.
- Neuza mulher tu sabia que Davi do 301 fuma maconha?
- Como é isso Neidinha?
- Pois é minha filha de noite só se sente a catinga do fumacê. Eu fico que não me aguento!
- Mas Neide como é que tu sabe que é o Davi do 301?
- Porque eu faço faxina por lá e achei a tal da maconha escondida numa lata de leite embaixo da cama dele!
- E tu já disse pro pai desse menino?
- E o pai dele liga? Se ligasse esse menino não tava desse jeito Neuza!
- Neide, eu tenho que entrar os meninos já vem vindo da escola! Quando eu largar a gente vai pro bar de Muriçoca tomar uma!
- Combinado!
Neuza pegava as crianças e às 14h os deixava no playground para poder assistir sua novela da tarde. Preparava o jantar, pegava as crianças no play, assistia a novela das 18h, depois a das 19h, ia na padaria, assistia a novela das 20h. Maria Isabel chegava sempre reclamando de tudo, enquanto João Pedro nem ao menos tomava banho e já sentava de qualquer jeito no sofá. As crianças iam dormir às 20h30, o casal ainda ficava até altas horas conversando sobre o dia e Neuza era dispensada às 21h.
Era hora de tomar uma gelada no bar do Muriçoca para terminar o dia, era hora de falar mal dos patrões e saber o que se passou nos apartamentos dos vizinhos, era hora de... continua...